A LAMENTÁVEL – FALSA – NARRATIVA DO “PAPA TRAÍDO”.

29 Settembre 2020 Pubblicato da

Marco Tosatti

Caros amigos e inimigos de Stilum Curiae, vejo que nos jornais – ou pelo menos em alguns deles – estão procurando construir uma narrativa na qual o pobre Pontífice reinante, que está tentando limpar as finanças do Vaticano e arredores, infelizmente foi traído… Isso seria muito bonito e edificante, se fosse verdade; mas de fato não é assim; e até nos jornais geralmente bem informados e que certamente não são mainstream, encontramos reconstituições e histórias que são fruto de rancores pessoais jamais mitigados, mas que ainda dão uma impressão enganosa. Para aqueles que acompanham com atenção e de maneira desapaixonada os acontecimentos do Vaticano, vários elementos emergem desse caso.

 

É verdade que o Papa Bergoglio tentou, no início de seu pontificado, esclarecer sobre a desordem dos dinheiros do Vaticano. Ele assinou um Motu Proprio, com o qual confiava todas as questões financeiras a um só organismo, a Secretaria para a Economia, e colocou o Cardeal George Pell à frente dela, dando-lhe todo o poder para atuar. Pell, como um bom jogador de rúgbi australiano, jogou-se de cabeça nessa tarefa. Encontrando, obviamente, todas as dificuldades e as objeções daqueles que não queriam ceder seus poderes, e seu dinheiro: a Secretaria de Estado, com a Seção Econômica, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), o IOR, Propaganda Fide com seu orçamento independente, etc. E o que o Pontífice fez? Em conversas com Pell, ele lhe dizia: não se detenha diante de nada, vá em frente. E imediatamente depois assinava uma resolução com a qual satisfazia os oponentes de Pell, e tirava um pedaço de seu poder. E Pell estava amargurado, e talvez ainda o esteja, por esta série interminável de pequenas traições perpetradas por seu Superior. E a pequena selva do Vaticano permaneceu o que era, uma selva. Aquela foi a oportunidade de limpar; mas falhou, e pela única e exclusiva responsabilidade do Pontífice.

 

Segundo elemento. Como Becciu declarou no passado, ele prestava contas de seu trabalho a seus superiores. Agora, para um Substituto da Secretaria de Estado, o Superior de verdade é o Papa. Em geral, o Secretário de Estado vê o Papa com muito menos frequência do que o Substituto. Pelo que sabíamos nos últimos anos, em tempos insuspeitos, o Pontífice usava Becciu amplamente para trabalhos de todo tipo. Becciu aspirava ao cardinalato. O Pontífice não queria dá-lo a ele; queria dá-lo a Cagliari. E no final Becciu obteve a dignidade de Cardeal, e a Congregação para as Causas dos Santos.

 

Aqui abaixo você encontrará ainda um artigo de Lucetta Scaraffia, que viveu no Vaticano durante muito tempo; artigo que em nossa opinião é altamente merecedor de ser compartilhado. Mas acreditamos que, além dessas, há outras considerações a fazer. A primeira é de caráter psicológico e comportamental.

 

Este Pontífice, cujas alterações de humor repentinas, fortíssimas e com conotações inclusive verbais, muito fortes, não são um segredo para ninguém no Vaticano, tem agora uma pequena lista de decapitações em seu crédito, tanto pequenas quanto grandes, e que bate recorde. Gostaríamos de lembrar os funcionários da Congregação para a Doutrina da Fé que foram demitidos sem motivo, o Grão Mestre da Ordem de Malta Matthew Festing, o General Domenico Giani e ainda outros, e agora seu fidelíssimo Becciu.

 

“Traído” é o que dizem alguns jornais. Mas, sério? Este é o Pontificado no qual, dentro do Vaticano, sabe-se que cada palavra pode ser denunciada e causar problemas; em que os telefones – e os e-mails – estão grampeados, controlados; em que os cardeais vêm com suas chaves para se conectar à Internet, desviando a rede do Vaticano; e querem que acreditemos que o Número Um, que tanto em Buenos Aires quanto aqui em Roma tem ouvidos em todos os lugares, não sabia que já como Núncio na África o Cardeal Becciu tinha uma paixão – talvez inocente e bem-sucedida – por negócios e empreendimentos? Ao contrário, mais uma vez vemos que, assim que qualquer um de seus homens mais confiáveis (McCarrick é o maior exemplo) se envolve, com ou sem razão, em escândalos que correm o risco de tornar-se públicos, a reação é imediata e cortante. Mesmo contra qualquer hipótese de mínima justiça. Aproveite a leitura do artigo de Lucetta Scaraffia, publicado pelo Quotidiano.net e relançado por Il Sismografo.

§§§

 

Desde que Bento XVI tentou limpar o banco do Vaticano, os escândalos começaram. E os Católicos continuam desorientados – eu sou uma Católica que vive com dor e angústia estes dias que alguns meios de comunicação querem fazer passar por de “grande limpeza no Vaticano”. Como alguém observou, na realidade o que está acontecendo assemelha-se mais às grandes purgas políticas dos regimes totalitários do que a um recurso sério e ponderado à justiça. Há muitos anos, desde que Bento XVI pôs mãos à obra em uma reforma do IOR, o Banco do Vaticano, sucedem-se escândalos, vazamento de notícias, prisões repentinas, julgamentos simulados. É difícil entender o que realmente está acontecendo detrás dessa rajada de tiros constituída pelas “operações de limpeza”.

 

Acrescente a isto os insistentes rumores de possíveis chantagens com base em escândalos sexuais, mais frequentemente homossexuais e pedófilos, que envenenam a vida e o trabalho das hierarquias do Vaticano. Lembremos que até alguns anos atrás todos os bispos – e sublinho todos eles – eram obrigados a encobrir os escândalos sexuais de fato. Operações que hoje, se surgirem, podem causar sérios terremotos, até nas posições do topo. Vamos tentar levantar uma hipótese: se, como muitos suspeitam, o IOR tem servido durante décadas para limpar o dinheiro sujo das organizações criminosas, é impensável que estas aceitem sem questionar que tal recurso lhes seja tirado. Daí a hipótese lógica, precisamente, de que eles estão tentando impedir a desejada limpeza, ameaçando tornar pública para os fiéis de todo o mundo esta atividade subterrânea do Banco do Vaticano. É fácil imaginar o efeito devastador que esta publicidade teria sobre a vida da Igreja.

 

Tudo isso talvez explique as infinitas dificuldades que qualquer tentativa de reforma econômica no Vaticano encontra. E de fato, as ânsias de reforma financeira se repetem, sem nenhum efeito real do ponto de vista da limpeza, mas cada vez produzindo repercussões e revelações úteis para as lutas das facções internas. Toda vez que alguém é defenestrado, algum culpado é vetado e, como resultado, sua promoção é abruptamente interrompida. Pode-se suspeitar, então, que as operações de limpeza financeira servem apenas para estabelecer um novo equilíbrio de poder, para eliminar os adversários. Para isto, é fundamental o apoio da mídia. É ela, de fato, que difunde a notícia e cria o culpado, que é, portanto, condenado a priori, irremediavelmente e sem possibilidade de defesa. Portanto, quase nunca se chega a um julgamento de verdade, e se se chega, geralmente é um julgamento não confiável – as regras da justiça do Vaticano estão sempre mudando e você tem a sensação de que elas são mais pro forma – de modo que, na verdade é quase sempre a imprensa que realmente estabelece quem é o culpado.

 

Também neste caso, que começou há meses com denúncias de peculato em relação à compra de um edifício em Londres, o escândalo eclodiu imediatamente, graças ao envio oportuno de fotos dos suspeitos à mídia. Tendo-se encontrado um bode expiatório – o comandante dos gendarmes Giani, obrigado a renunciar por causa de um vazamento de notícias – passou-se rapidamente à condenação midiática dos acusados que, na verdade, apesar de não ter havido julgamento, foram demitidos.

 

Uma justiça muito apressada, embora apresentada aos jornais como exemplar, agora atingiu também o Cardeal Becciu. Sem julgamento, sem que lhe tenha sido dada qualquer chance de se defender, ele foi privado do papel e da função cardinalícia, com o único efeito de deixar os fiéis, e não só eles, desconcertados. Mas não sabemos se ele é culpado e, na ausência de julgamento, nunca saberemos. Mas uma coisa sabemos: Becciu decidiu se defender de cabeça erguida, dirigindo-se à mídia para fazer sua defesa, sem recorrer àquela que é a arma mais utilizada no Vaticano, a chantagem.

 

A uma autoridade de seu nível, de fato, que tinha a responsabilidade de resolver muitas situações controversas “sujando as mãos” pelo Papa, certamente não deve faltar material adequado. Pessoalmente, tenho certeza de que ele também pagou por ter ousado abrir a questão do cappuccino Salonia, que estava prestes a se tornar bispo, acusado de abuso sexual de alguns religiosos. Um crime pelo qual o frade só não foi condenado porque os prazos estabelecidos para a denúncia haviam passado. Como se pode ver, coragem e sinceridade não compensam na Igreja, mas talvez aos olhos dos fiéis sejam virtudes que ainda são apreciadas.

Lucetta Scaraffia [Luchêta Scarafía]

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1 commento

  • Rafael Brotero ha detto:

    Aí, moçada, vamos aproveitar essa canja que o Dr. Tosatti está dando aos brasileiros, traduzindo para o português os artigos do blog. Quem sabe com isso se possa elevar um pouco o nível abissal das discussões sobre o antipapa no Brasil. A esperança é a última que morre.